Em 31/07/2017,
Eric Garcia, o DJ Erick Jay,
era ajudante-geral em uma metalúrgica em São Paulo, com uma jornada que ia das
7h às 18h.
Naquele ano,
ele tomou uma das decisões mais importantes da vida. Largou o emprego e juntou
o dinheiro do FGTS e rescisão para comprar um equipamento de DJs que um vizinho
estava vendendo. Este foi o pontapé inicial para ele se tornar o maior DJ do
Mundo.
O começo foi
tocando em bailes black, casamentos e quermesses nas quebradas.
No final
deste mês, ele embarca para Londres onde vai defender, no dia 1º de outubro, o
título do DMC World DJ Championships,
conquistado em 2016. O DJ também vai aproveitar a passagem pela Europa para
fazer um mini-turnê pela França, Alemanha e República Tcheca.
Com mais de
30 anos de tradição, o DMC World é a competição de maior prestígio do hip-hop.
Com uma rotina diária de três a quatro horas de treinamento, DJ Erick impõe
respeitos aos concorrentes. O brasileiro é um nome temido entre os oponentes e reconhecido pela nata do hip-hop mundial.
"
O contato
com a música veio de casa, o pai do Erick tinha montado uma equipe de som na
Vila Guarani, na zona Leste da capital, e a discoteca da família Garcia era
recheada de pérolas. "O compacto de Thriller, do Michael Jackson, e um
disco do Tim Maia, que tinha a música Olhos de Mel, eram os meus preferidos.
Ouvi muito esses discos. É uma lembrança forte da infância", disse Erick
Jay. A bolacha do Tim que fez a cabeça do Erick Jay é o "Reencontro",
lançado em 1979.
Novato na
profissão, Erick Jay ia nas casas de shows aprender vendo as performances de
DJs. "Eu ia na Chic Show, na Radial, e tentava entrar, mesmo não tendo
idade. Eu via o R. Jay, o Marcelo e o Grand Master Duda. Eles dominavam as
pistas", lembra o Erick, que na época também participava de um grupo de
break dance.
Logo chegou
a vez dele mostrar das suas qualidades nos campeonatos e batalhas. Como DJs
performático, aliando rapidez, criatividade e domínio da pista, Erick Jay
acumulou muitos títulos e prêmios. Entre 2006 e 2008, ganhou as três edições do
Hip Hop DJ, consagrando-se como o melhor DJ da América Latina. Foi também
pentacampeão do DMC Brasil (em 2009, 2010, 2011, 2014 e 2015).
Foi se
destacando nos campeonatos que ele conheceu o rapper Kamau. O encontro foi em
2002, quando ele se classificou na repescagem do campeonato nacional no Sesc
Pompeia. Naquele dia, ele não ganhou, mas ter o talento reconhecido por um dos
maiores rappers brasileiros de todos os tempo valeu como um título. "Ele
chegou para mim e disse que tinha gostado da minha sessão e que um dia o meu
telefone iria tocar", disse. Passaram alguns anos, e a parceira com o
Kamau virou uma realidade.
"O
campeonato era organizado pelo KL Jay (Racionais MCs) e o Xis. Tinha toda a
cena de olho no campeonato. Quem se destacava nas pick-ups já descia do palco
com emprego garantido. A visibilidade era muito grande nessa
época”, lembra o DJ. Nos anos seguintes, em 2003 e 2004, ele ficou entre
os cinco finalistas. Em 2005, foi para a final com o DJ Tano, que naquele ano
se tornou tricampeão. O primeiro título do Erick Jay no Hip Hop DJ veio em
2006, quando superou o o DJ e amigo RM. "Foi o ano em que as portas
começaram a se abrir", disse.
A
consagração nos toca-discos, naquela época, não era suficiente para garantir
uma vida só na música. "De 2006 a 2008, eu ainda trabalhava tirando xerox
em um prédio na região da Paulista, na alameda Bela Cintra. Para defender o
título, eu chegava do trabalho às 19h, tomava um café, e ia treinar até 23h ou
meia-noite. Acordava às 5h, e treinava até as 7h, e depois ia para o trabalho e
a rotina repetia", disse.
Além de
tocar com o Kamau, Erick Jay também é o DJ residente do programa Manos e Minas,
da TV Cultura, onde também faz matérias descobrindo novos talentos da cultura
hip-hop.
Em 2008, o
campeonato mundial DMC teve uma edição especial no Brasil. "Eu já estava
me preparando para disputá-lo. E veio então a sequência de título que começou
em 2009", disse. Em 2013 e 2014, ele foi convidado pelos ingleses para
representar o Brasil em Londres.
Para
defender o título mundial, DJ Erick Jay treina, no mínimo, quatro horas por dia
e acompanha as performances de DJs do mundo todo. "O DJ que faz
performance é capaz de fazer qualquer música. Eu posso tocar samba, fazer a
cuíca nos toca-discos, posso tocar jazz, já toquei e improvissei com músicos de
jazz. É ridículo dizer que DJ não é músico. Eu me encaixo em qualquer
banda", disse.