07-10-2017 / Ultima Noite Anzu Club

Quando a música parou de tocar na pista externa, o sol já ardia nos milhares de pessoas que tinham passado as 11 últimas horas dançando. Já eram 10h de domingo (08-10-2017), mas ninguém parecia querer se despedir da casa que, por 20 anos, foi referência em música eletrônica no Brasil. A última balada do Anzu Club, em Itu (SP), foi marcada por lotação máxima, gente do lado de fora, choro e saudosismo.
Inaugurado em 1997, em Itu, a 90 quilômetros de São Paulo, o clube recebeu grandes nomes do eletrônico internacional e somou um público aproximado de 5 milhões de pessoas em mais de 2.500 festas nas duas décadas de funcionamento.
Apesar da idade "avançada", a casa ainda estava em plena forma, tendo sido eleita a 18º Melhor Balada do Mundo pela revista inglesa especializada em música eletrônica DJ MAG.
Na noite de encerramento oficial, foi necessário fechar as portas para evitar superlotação. O G1 acompanhou a derradeira balada e traz histórias de pessoas que se emocionaram com o fechamento de um dos clubes mais antigos e tradicionais do Brasil.
O Anzu (chamado erroneamente no feminino por muitos frequentadores) iniciou suas atividades em 2 de outubro de 1997, com a ideia de ser referência na cena eletrônica brasileira e uma opção na época em que a maioria das casas eram focadas em pagode e axé, ritmos que mais faziam sucesso.
Com um restaurante acoplado à pista de dança, o clube abria quatro vezes na semana: quinta, sexta, sábado e domingo. Com o tempo, o espaço gourmet deu lugar a outro ambiente e às atividades voltadas apenas para a música eletrônica.
O sucesso no Brasil levou o Anzu a representar o país durante quatro anos em Ibiza, berço da música eletrônica do mundo, em um dos festivais mais importantes do segmento. O proprietário Miltinho Muraro, de 44 anos, lembra que foi necessário fretar um avião para levar toda a estrutura de equipamentos e pessoas para a Espanha. "Foi um momento muito marcante. Ibiza é o ícone da música eletrônica no mundo e levamos o nome do Brasil para lá", relembra.
O passar dos anos e a mudança de comportamento do público fizeram com que o clube passasse a funcionar apenas aos sábados, sempre com atrações internacionais e festas temáticas. Pelo Anzu, passaram nomes como Fatboy Slim, Alok, Bob Sinclar, Felguk, Vintage Culture, Armin Van Buuren, Deep Dish, Deadmau5, Steve Angello, Dimitri Vegas, Sebastian Ingrosso, Axwell, Ferry Corsten, Erick Morillo, Benny Benassi, Fedde Le Grand, Tocadisco, Kaskade e Skrillex, entre outros.
Curiosidades:
Com um fluxo estimado em 5 milhões de pessoas durante os 20 anos de existência, segundo o controle do próprio estabelecimento, o que não falta são histórias engraçadas e curiosas de clientes que - sob efeito do álcool ou não -, ficaram registradas no memorial do clube.
Muraro se recorda de uma história que certamente o fez pagar hora extra aos funcionários, que se desdobraram para achar a única comanda restante para o fechamento da noite. O clube se preparava para fechar e encerrar as atividades naquele dia, quando o dono da conta foi encontrado dormindo enrolado em uma bandeira do Brasil em um dos jardins do clube.
Funcionários mais antigos também contam de episódios em que clientes foram embora e esqueceram o carro, a carteira ou até mesmo a namorada.
Emoção da última Noite:
Com público estimado de 4 mil pessoas na última noite - com muita gente do lado de fora - houve quem não conseguiu conter a emoção. "Achava que era jogada de marketing, que não ia fechar de fato. Estou ensaiando um abraço às paredes, até um choro. Vai ser difícil desapegar", diz a estudante Helen Camila Oliveira, que nasceu no mesmo ano em que a balada foi criada.