Recordar / Revista Bizz


 A revista que virou sinônimo de música no Brasil já foi relançada três vezes. Deixou de ser uma publicação mensal em 2007 para se transformar num selo de projetos especiais relacionados à música
A primeira edição da revista Bizz chegou às bancas em agosto de 1985, sob direção editorial de Carlos Arruda e chefia de redação de José Eduardo Mendonça. Seu projeto editorial inicial foi baseado em pesquisas levantadas junto ao público presente no primeiro Rock in Rio, ocorrido em janeiro daquele ano. O projeto visual foi inspirado na revista adolescente inglesa Smash Hits. O país vivia a explosão do chamado "Rock Brasil", com jovens bandas alcançando o estrelato a bordo de sucessos massivos nas FMs e de um bem-azeitado circuito de shows (nas danceterias). Pela primeira vez, se falava em "público jovem" no Brasil, cultura abafada por 20 anos de ditadura militar.
Sua receita editorial inicial contemplava, além de música, também cinema, moda, vídeo, quadrinhos e tecnologia. A primeira edição alcançou a animadora marca de 100 mil exemplares, se estabilizando nos meses seguinte entre de 60/ 70 mil exemplares por mês.
Em 1986, o Plano Cruzado deu impulso inédito ao consumo no país, do qual também se beneficiou a indústria fonográfica e do entretenimento. Bizz aposta então em edições especiais como a Top Hits (rebatizada logo depois como Letras Traduzidas), Ídolos do Rock e revistas-pôster de artistas como The Cure, RPM e Dire Straits. Com a explosão consumista, também o mercado publicitário passa por um superaquecimento, com a criação de toda uma gama de produtos e serviços direcionados ao público jovem. Para dar vazão a publicações direcionadas, a Editora Abril cria a Editora Azul, que passa a publicar Bizz a partir de outubro de 1986.


Em 1987, o fim do Plano Cruzado trouxe de volta, aos poucos, velhos fantasmas da economia, como a inflação. Saques, manifestações populares e depredações passaram a ser comuns. Com a retração de mercado, suas únicas concorrentes, Somtrês e Roll, fecham as portas, e Bizz ganha força e poder de repercussão. Dentro do plano de criação de produtos segmentados da Editora Azul, em junho de 1987 surge a revista Set, gerenciada em boa parte pela mesma redação de Bizz. A revista-mãe fecha o foco em música e sua redação é remanejada para atender a demanda de duas revistas. José Augusto Lemos assume a direção de redação e Alex Antunes o cargo de editor, o que acentua o caráter "alternativo" das novas pautas.
No fim de 1989, a revista ganha novo projeto gráfico e novo logotipo. Àquela altura, o cenário musical brasileiro era bastante diferente do de quatro anos antes. Dentre os grandes vendedores, somente Legião Urbana, Paralamas e Titãs não enfrentam queda nas vendas. As redes de FM eram uma realidade - durante o governo de José Sarney, foram distribuídas 958 concessões, uma por quinzena -, o que solidificaria rapidamente a prática do jabaculê. A aposta das gravadoras passa a ser os chamados "artistas bregas", como Rosana, Chitãozinho & Xororó e Leandro & Leonardo, e a lambada de Reflexu's da Mãe África, Beto Barbosa e Sara Jane. Em maio de 1990, com a estréia da MTV Brasil, há um maior interesse de toda a mídia nacional em artistas estrangeiros. A segunda edição do Rock in Rio, em janeiro de 1991, é toda pautada por artistas em alta-rotação na emissora, como Guns N'Roses, New Kids on The Block e Faith no More.


Um novo projeto editorial e um terceiro logotipo estréiam em maio de 1993. A matéria de capa revela a preocupação da revista com a renovação do cenário brasileiro: "A nova MPB", com artistas então desconhecidos como Carlinhos Brown, Skank e Okotô. Seis meses depois, André Forastieri deixa a redação para criar a revista underground de comportamento General. O repórter Carlos Eduardo Miranda funda com os Titãs o selo Banguela, responsável pela descoberta de bandas como Raimundos e Mundo Livre S/A.
Em outubro de 1995, em meio aos novos ventos econômicos do Plano Real e ao sucesso do formato de cultura jovem disseminado pela MTV, Bizz transforma-se em Showbizz, com formato maior, projeto gráfico privilegiando fotos em detrimento do texto, linguagem adolescente, e ensaios sensuais. O mercado publicitário reage bem e o relançamento atinge 100 mil leitores.
A partir de 1996, a revista passa a investir em capas com grandes nomes do rock (The Doors, Jimi Hendrix, Nirvana, U2, Legião).


Com a compra da Editora Azul pela Editora Abril, os ensaios "sensuais" são extintos, inicia-se um processo de "limpeza na linguagem", buscando falar com um público mais abrangente, e um esforço concentrado para melhorar a qualidade do jornalismo praticado pela revista. Em agosto de 1998, o jornalista carioca Pedro Só assume o cargo de redator-chefe, abrindo o foco em direção a MPB, à "cultura musical" e inaugurando projeto gráfico mais sóbrio. A proposta visa reduzir a rejeição que a fase teen criou em parte do público e recuperar a credibilidade e o trânsito entre o meio artístico. No início do ano 2000, depois de uma associação com a editora Símbolo, a direção da editora Abril anuncia que Showbizz, dali em diante, seria publicada pela editora independente.


Pedro Só declina do convite de manter-se à frente da redação. Quem assume é o então editor-assistente Emerson Gasperin, que opta por aprofundar a receita editorial em curso, abrindo o foco para música eletrônica e raridades do pop nacional e apostando em grandes matérias históricas especiais. Em julho de 2001, entretanto, desfez-se o contrato entre Símbolo e Abril e a última não se interessou em continuar o título. A revista manteve-se viva em edições especiais ocasionais, em sites de leitores na internet e até numa comunidade no Orkut, com mais de mil membros.
O culto em torno do título chamou a atenção para o vazio causado após o fim da revista. Em setembro de 2005, o Núcleo Jovem da editora Abril (responsável por títulos como Superinteressante e Capricho) decide ressuscitar a revista, com seu título e formato original. Para a direção do novo projeto editorial, foi convocado o jornalista Ricardo Alexandre, lançado nas páginas da própria Bizz em 1993.
Em Julho de 2007, o jornalista assinou pela primeira vez uma reportagem de capa da revista, contando a história da última turnê dos Los Hermanos. Foi a última edição da Bizz.