12/04/2013 / Elas Seguram a galera na Pista de Dança

Até então manuseadas apenas por homens, as pick-up (toca-discos) e CDJs (toca CDs) devidamente instalados nas cabines dos clubes de uns tempos para cá são instrumentos de trabalho ou hobby também das mulheres. E os baladeiros de carteirinha sabem que, muitas vezes, as festas comandadas por elas são sinônimos de boa discotecagem e alto astral. Em cada noitada uma surpresa. Essencial é "segurar" a galera na pista de dança. Para tanto, além da preocupação com a roupa e a maquiagem, normalmente mais colorida e carregada, as beldades apostam na sensibilidade feminina. Esse <IC>feedback<XC> para a "troca de energia" é fundamental para todas. As noites ainda contam com uma boa dose de truques e alguns segredos que não são revelados por nenhuma DJ, inclusive os do sexo masculino.

Mãe de três filhos - de 10 a 15 anos -, a DJ Lú Guaríglia é veterana no ramo, tendo participado, inclusive, da instalação de casas noturnas e clubes tradicionais da cidade. A empresária de 50 anos afirma não ter encarado nenhum tipo de preconceito na carreira, e confessa a influência do marido, o DJ e empresário Krika. "É o meu mestre." Tinha uns 18 anos quando acompanhava o então namorado nas festas. Enquanto um cuidava do som, o outro ficava na iluminação, recorda-se. "Começamos no vinil. Hoje está bem mais fácil. É como se você dirigisse um Fusca e pegasse um carro automático", compara. Lú explica que uma noite não é igual a outra. "Não dá para planejar. É preciso sentir o público. Você pode mudar todo o repertório", justifica.,

O DJ não toca para ele, acrescenta. "E nem sempre a gente toca o que gosta", confessa. Ponto forte do som que comanda é a fase áurea da década de 80, que compõe seu playlist. "Mas toco anos 90 e até 2000." Por experiência afirma: "as músicas com vocal é que chamam para a pista." Mesmo com o sucesso de seu repertório afirma não ter dificuldades para atrair o público teen. Isso porque sua rotina é cercada por adolescentes (filhos e amigos dos filhos). Hoje a função é encarada apenas como hobby, revela. "Às vezes toco como convidada, mas eu e o Krika estamos há 7 anos no comando da Golden Night." Ela já chegou a tocar para até 2 mil pessoas, inclusive em São Paulo.

"A música mexe com os sentimentos das pessoas"

Outra veterana no comando do som é a DJ Roxxy. "A música mexe com os sentimentos das pessoas, então é preciso entender o que querem", revela. Aos 47 anos, Roxxy, pseudônimo utilizado por Rosane Guaríglia, acumula experiências como DJ e DJ Light (iluminação). Mantém um acervo de mais de 30 mil músicas de diferentes estilos - a partir dos anos 70 - que ajudam a montar as trilhas para desfiles de moda e eventos (temáticos ou não). Interessante é sua opção por armazenar os CDs. "É pesado, mas prefiro assim." Sua carreira começou há mais de vinte anos, nas festas que oferecia na sua casa, onde chegava a receber em torno de 2 mil convidados, e nos aniversários em que era convidada para tocar.

"Eu tenho esse <IC>time<XC> do que é necessário para as pessoas sentirem-se felizes." Mas ouvir as pessoas é outra preocupação da DJ. "É preciso também entrar no que as pessoas gostam de ouvir. Quando posso costumo atender os pedidos feitos até em guardanapos de papel." Em seu playlist inclui as músicas temporais que agradam a "gregos e troianos". "São as de novelas, por exemplo." Por outro lado, alguns clássicos não saem de moda e não faltam: décadas de 70 e 80. Para Roxxy, o importante é não ter preconceito e gostar ou aprender a gostar de todos os estilos. A música tem tal importância em sua vida que chega a permanecer horas sobre o palco, onde "sente a energia" de seu público.

Outras gerações

A publicitária Talitha Andrade, 26 anos, começou sua carreira de DJ, a exemplo de Roxxy, tocando em festas de amigos. Isso há sete anos, mas há cinco anos divide o som com a a profissão. Chega a permanecer até 4 horas no comando do som. "A gente reveza com outros DJs." Também não é raro sobrar apenas o domingo para descansar.Talitha não vê preconceito pelo fato de ser mulher. "Chama mais a atenção. Está até na moda. As pessoas se aproximam mais", observa. Atualmente ela é residente (atua de forma fixa) numa casa noturna que chega a receber em torno de 450 pessoas, mas tocou em evento de games para um público de até 1,5 mil. "Normalmente são da faixa dos 20 a 30 anos", calcula.

Talitha reforça o feeling como diferencial feminino para manter a galera na pista. "Tem noite que não está rolando. Aí conta a experiência e a sensibilidade. Agora não rola é tocar as músicas que eu gosto", destaca. É em seu notebook que estão os repertórios e seleções. "É preciso saber ouvir, respeitar e até gostar de tudo." Uma preocupação que conta, revela, está relacionada às roupas e maquiagem. "Eu sou a imagem do local." Para ela, seu gosto é até bem apurado. "Às vezes escolho calça de cintura alta, meio retrô, botas, ou então um vestido, mas nada piriguete."

Aos 18 anos - completos recentemente -, a DJ Natribs, a Natália Ribeiro, é uma das mais jovens na área. Aos 16 anos, portanto, há cerca de dois anos, ela afirma estar colocando em prática tudo o que aprendeu com seu tio que também é DJ. Apesar da dificuldade em conciliar a faculdade que iniciou este ano, de Marketing, Natália revela que o comando do som exige responsabilidade e muita atenção. Talvez pela idade, acredita, tenha enfrentado alguma resistência. "Algumas pessoas acham que mulher não toca nada, ou que vai só para se mostrar. Outros chegam até a confundir as coisas", critica. Mas ela acredita estar se firmando na carreira pela qual confessa ter se apaixonado. Embora tivesse como referência a música sertaneja, inclusive como fã da dupla Jorge e Matheus, Natribs confessa não ter preconceitos.

"Tem que conhecer de tudo." Atualmente faz festas eletrônicas ou eletrohouse, que chegam a atrair um público de até 1,7 mil pessoas. "Tem bastante vocal e batidas. É Mais gostoso de dançar." Ela conta que a plateia tem de 16 a 24 anos. Ao longo da noite reveza-se com outros DJs, mas nos eventos em que atua não é normal colocarem duas DJs mulheres. "Toco uma hora e meia a duas horas", calcula.

Telma Silvério / Jornal Cruzeiro do Sul

Dj Natália